quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Umas das idas do nada a lugar algum (15 de agosto de 2006)

A menina me passou a ligação.
- Jesus, é a Pola, do Centro de Arte e Cultura.
- E aí...
- Queríamos que escrevesse uma coisa pra nós.
- Pode ser.
- Vamos reunir o pessoal no Círculo da Pizza, terça-feira, ao meio-dia.
- Tá.
Não fui. Tinha chegado num ponto em que só fazia o que estava a fim. E não estava a fim de muita coisa. Ou desistia logo. E o que eu queria - mais ou menos - era gravar o disco novo: “Depois de Deus”, só com uma data de validade como nome. Dois ou três balões depois (e um livro que mandei, não meu), a Pola parou de ligar.

Anatole, no telefone:
- Vai na despedida do Mag?
- Despedida do quê?
- Ele e a Tatiana vão para a Croácia...
- É, né... onde vai ser?
- Ah, num bar cabeça aí - debochou, colocando tils, prolongando o “b” e acrescentando um “m”, para dar uma portoalegrada na pronúncia.
Ficava algo do tipo “cãbbbçãm”.

Era sábado. Umas 14h liguei para o Mag.
- Tá aí, já?
- Ãrrã.
- Vai ficar aí?
- Se tu vier eu espero.
- Falou. O Cica vai?
- Não sei, acho que não...
Tinha vontade de ver o Cica, apesar dele nunca ter vontade de ver ninguém.

Levei o celular, para Mimi ligar depois. Passei antes no Saco´s, que fica ao lado do Bolívia, onde moro.
- Um branco seco, por favor. E um lights, maço.
- Só box.
- Pode ser.
Fiquei olhando o Careca, no caixa. Estava sempre ali, a mesma cara de o-que-estou-fazendo-aqui. Era um espanta freguês. Tinha até suspendido as transmissões dos jogos depois que comprou o bar. Devia pensar “esses bêbados fugindo, chatos, puxando assunto” ... O que não adiantou muito, pois logo vi ali o cara de sempre, aquele. Ia falando com um e outro, matando o tempo enquanto morria. Tinha mais gente trabalhando que clientes, mas mesmo assim fui doce:
- Ainda dá para fumar?
- Não.
Fiz um fundo liso e fui, deixando para trás a foto do papa João Paulo II, abençoando a família. O Mag ligou. Me atrapalhei com o celular.
- Não vem?
- Estou indo. Ó, chegou um Santa Casa...
Já meio chuco, sem almoço, olhava pela janela. O bairro, onde tinha estudado quando guri, mudou nos três anos que estava aqui. Até um viaduto tinham feito. Os moradores de rua não eram mais os mesmos. E meus olhos demoravam mais a baixar com o vinho... e a sensação de relaxamento explicava porque eu bebia... e eu sabia que não ficava só num copo... e eu tinha que fazer um exame para ver se o esperma não estava gasto... e minhas férias estavam chegando... e eu podia ajudar um gato, um cão, mais que um homem... eu tinha sido processado por dizer que só faltava achar o padre na zona... e uma menina bonita subiu e eu sabia que a beleza sumia em duas, três palavras... e eu engasgava pelos desaparecidos... e a “Sara Nossa Terra”, ali, na janela, com um cara sorrindo para quem chegava, com um cabelo de gambá...

Desci na esquina do Sala. Lembrei que era para gravarmos naquele fim de semana. Só que esqueci de marcar com o Rene. Peguei a Independência e segui, passando o prédio do Sid e pensando em mais um vinho. E em mijar, também. Caminhei até onde ia para não fazer o que tinha planejado: o Ponto, Bom Fim.
- Um vinho tinto, por favor.
Me olhei no espelho, entre os abacaxis e laranjas do balcão. A vida é boa (não sei que pontuação colocar aqui).
Chovia fino.

Cheguei no Fitz. Mag numa amarguenta, de fora, já sem colarinho. Um pessoal arrumava roupas que seriam apresentadas num coquetel, ali.
- Maura, olha quem tá aqui - o Mag chamou a menina do balcão.
- Jesus, que diferente...
- É...
- Seja bem-vindo...
- Tá, velha... - disse baixinho, só para o Mag.
A Maura era amiga do “ginásio”, dos tempos do contra. Me pareceu que o “lesbianismo pra chocar” não era tão para chocar, quando ela voltou a cochichar com a “amiga” atrás o balcão... Legal. Tinha tomado um fora dela e de outra amiga uma vez, lá no Fim. Me pediram para escolher e eu queria as duas.
- Que tu tá pensando?
Pedimos um tinto, uma garrafa. Acendi um cigarro. A Tatiana chegou.
- Tu tá fumando? Maura, olha aqui... o que a gente tinha combinado?
- Peraí. Quer me mandar embora? - ri.
- Tem lei agora, em Porto Alegre. Não pode mais fumar.
Conversamos, em meio à fumaça, do Oriente Médio ao jornalismo de ata feito em Porto Alegre, passando por como sexo não estava com nada, mesmo. Só eu fumava. O lugar era pequeno e fui ficando orgulhoso da névoa que criava. Ia ao banheiro com o cigarro na mão e a fila sumia, essas coisas.
- Como vai ser a viagem? - perguntei.
- Vamos locar um carro e ir pelo litoral. Lá tem praias e ruínas históricas juntas... - o Mag se empolgou.
- Mas não tem perigo? - caguei-me.
- Não, não. Turismo é comum lá - Tatiana ensinou.
Anatole ligou. E veio, ele e a Ina. Passamos para a cerveja. Chamamos entre o “mesgum de folhas verdes” e “bruschettas” uma água da pipa e umas cinco vodkas.
- E o curso de vela, Anatole?
- E o Pichot, e o Pongo, Mag?
Um dos cachorros do Mag uma vez me fez subir numa árvore. Eram sempre mimados e violentos. O Mag tinha ciúme deles...
Comprei um fino por ali e fomos buscar Mimi para jantar no Micros.


Chegamos no Chinelo´s, eu, Mimi, Anatole e Ina.
- E aí, Jesus - acenou um cara, a quem devolvi, logo perguntando a Mimi quem era.
Fomos ao Sala.
- Numa festa a fantasia, até numa festa gótica, as pessoas se montam, mesmo. Aqui são máscaras invisíveis - observou Mimi.
- É.
Chegou o Bruno e a Carla.
- Fui lá no São João - ele contou.
- Foi?
- Pedi para entrar, fui lá.
- Por tudo? No pátio, na mesa de pingue-pongue, no lugar da fila, as araras, o brinquedão...?
- É. Tá tudo igual.
- Bah.

O jogo era às 19h. Fomos eu e o Mile. De ônibus. 17h estávamos na Praça XV. Entramos num bar.
- E o disco?
- Estamos fazendo.
- Como vai ser?
- Não estamos pensando num cd inteiro. Vamos gravando e disponibilizando para quem quiser baixar... Quero fazer uns vídeos, não clipes, vídeos...
- Vocês estão sempre à margem, tanto tempo...
- Tem sempre um fim de ano para as turmas. Meus amigos estão aí ainda, acho...
- Até quando vai isso?
- Acho boa a longevidade, sei lá. Sou meio gato, gosto de rotina. Eu estou aí...
- Pena que não conheçam vocês...
- Quem procura, acha. Vi tanta gente querendo fazer uma coisa que era a coisa de hoje e quando a coisa ficou pronta já era a coisa de ontem. Tenho pena de todo mundo, de mim... Minha coisa é a mesma de sempre. Nada - falava em voz alta, para me convencer..
- Vamos?
- Deixa eu fechar um no banheiro.
“O vamo, vamo Inter”... e eu estava me mijando no ônibus. O engarrafamento era grande. Me desesperei e comecei a gritar:
- Abre, abre.
O coro veio. O cara abriu a uns 300 metros do Beira-Rio. Corremos até uma árvore.
2 a 0. 2 a 1 dava pênaltis. E teve uma falta para a LDU nos acréscimos. Eu pensava: “O Inter é poesia, mesmo. É a redenção só ao subir aos céus”. Mas o Clemer pegou.
- Olha o carro.
- Vi, vi.
Atravessamos a rua jogando o peso do corpo para a frente, mirando a reta, bêbados.
- O cara tem que ser cagão.
- É. O cara ou é cagão, ou é um babaca. Em tudo, em tudo... O contrário de cagão é babaca. O cara metido só se fode.
- E a bebida é um milagre enquanto dura o efeito.


Mimi ia tatuar a mãe e eu e o Primo fomos lá no Anatole, sábado. Jogo do Grêmio na tv. O Jr. estava lá. Mais a Irina, a Lucia e o magrão dela.
- Vai um suco de artista? - veio o Primo, na cachaça com abacaxi.
A Prisca ia embora para a Argentina na semana que vem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pichot e Pongo! Chinelo´s! Ia ao banheiro com o cigarro na mão e a fila sumia! “mesgum de folhas verdes” e “bruschettas”! Um dos cachorros do Mag uma vez me fez subir numa árvore. Eram sempre mimados e violentos! Meu deus. Muito bom. MUITO BOM!