sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A caminho da praia

Eu estava derretendo no mormaço e no mijo, queimando a garganta.
Foi quando o anjinho pousou. Era meu anjinho da guarda. Aquele que não me reprovava mais. Que disse que só viria de vez em quando, agora.
Branquinho, branquinho, branquinho. No corpinho as constelações desenhadas, um caminho que eu tentei percorrer com dedos de bebê, da assinatura divina no rostinho até a bundinha que eu tinha até dado um tapinha no dia em que nasceu.
Me deu aquele sorrisinho infantil com a cabecinha meio de lado e as mãozinhas na cintura:
- Ó.
E virou.
Tinha agora asas negras.

Roubando ar na Terra

Várias vezes
eu quis gostar mesmo, mesmo de viver
várias vezes
quis fazer o que a gente tinha combinado
várias vezes
quis que não fosse só cocaína
várias vezes
quis ter vontade de mudar
várias vezes
quis parar de tremer os dedos do pé
várias vezes
quis te ouvir ouvindo
várias vezes
quis falar menos de ti
várias vezes
quis sentir logo ali o que estava recém sentindo
várias vezes
quis te trazer um presente
várias vezes
quis aprender a limpar a bunda sozinho
várias vezes
quis parecer menos para que soubesses que eu precisava mais
várias vezes
quis beber menos
várias vezes
quis aprender a conversar
várias vezes
quis saber se era amor o que eu sentia
várias vezes
quis te libertar
várias vezes
quis que tudo ficasse igual
várias vezes
quis dizer que estavas errada
várias vezes
quis errar mais
várias vezes
quis te foder
várias vezes
quis te empurrar para fuder com alguém
várias vezes
quis sentir tesão por ti
várias vezes
quis sentir tesão por outras pessoas
várias vezes
quis sentir vontade de dar o cu
várias vezes
quis dormir sem ter que rezar
várias vezes
quis ser realmente alguma coisa
várias vezes
quis abortar textos patéticos de minutos
várias vezes
eu quis mesmo, mesmo gostar de viver
mas eu não queria ter conhecido meu ídolo

Obrigado (por tudo e por nada)

Lembra o último abraço?
lembra a última vez
que disseste que fiz a coisa certa?
lembra a última vez
que disseste eu te amo primeiro?
lembra o último beijo?

O silêncio engasga

Não fica assim
eu não falo
e nunca falei por mal
o que digo vale
também pra mim
e se eu vejo por ti
e você vê por mim
então sabemos de tudo

Você podia se esconder um pouquinho?

Parece que não há ruas pelas quais não passamos.

Eu sou uma mulher

Acho que dessa vez ela vai escolher um homem.

Colagens e pequenas belezas

A felicidade tem um roteiro. É o do “Império do Sono”.

Henry & June

Anaïs:
- Hoje eu o odeio francamente. Estou contra você.
Allendy:
- Mas por quê?
- Sinto que você me tirou a pouca confiança que eu tinha. Sinto-me bastante humilhada porque confessei a você, e eu confesso tão raramente.
- Está com medo de ser menos amada?
- Sim. Definitivamente. Conservo uma espécie de concha à minha volta. Quero ser amada.
Eu lhe falo sobre meu modo de agir como uma criança com Henry, através da minha admiração. Como eu temera que isso tirasse a sensualidade dele.
Allendy:
- Pelo contrário, o homem adora sentir esse senso de importância que você lhe dá.
- Imaginei imediatamente que ele me amaria menos.
Allendy ficou assombrado com a extensão da minha falta de confiança.
- Para um analista, sem dúvida, isso é muito claro, mesmo em sua aparência.
- Em minha aparência?
- É. Eu vi imediatamente que você tem modos e postura sedutora. Somente as pessoas inseguras agem sedutoramente.

Pingüim

Ele me abraçou:
- A hora que tu precisar, a hora que tu precisar...
- Tu sabe que tu foi meu primeiro amor.

Papai e mamãe

Tudo o que estava conversado, certo, entendido e combinado se desfez quando eu deitei do teu lado e te abracei.
O cheiro da tua nuca, meu pau duro.

Diabético

Eu preciso vomitar toda a doçura de dentro de mim.

I hate myself and i wanna die

- Nessas horas o cara pensa em tudo.
- É, só merda.
- Até em suicídio...
- É. Mas eu ainda tenho pelo menos duas contas a acertar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

The Big Bang Theory

O meu amor por ti só pode ser maior do que o que eu tenho por mim.
Ou seria nulo.

Hoje acordei sozinho
numa casa que não é minha
e todos os olhos que vi
eram de despedida
de adeus
Você não sabia que seria assim?
Você tem medo do que vai achar?
Bem, talvez um dia...
Tão desesperançoso
e ao mesmo tempo tão inexperiente
eu não podia deixar isso me fazer desistir de amar
Tenho tanto tempo...
mas nenhum tempo vai ser suficiente para nos encontrarmos de verdade outra vez
Eu não entendi ainda como você espera que eu fique e se você teria alguma coisa mais a pedir
quando não sobrou nada
não sobrou nada
Tenho tanto tempo
e tão pouca paciência
e ninguém tem nem o número do meu celular
Tão desesperançoso
tanto tempo...
mas não tanto tempo para continuar errando
Hoje acordei sozinho
numa casa que não é minha
Acho difícil que você soubesse que seria assim
Acho difícil a gente saber o que achar logo ali
Quando eu conseguir entender
e talvez enxergar pelo teu ponto de vista
talvez eu me acostume
talvez eu goste mais de mim
como quando eu me sentia amado
quando eu achava que só isso chegava
e aí talvez eu acerte
da próxima vez
E se eu penso em todo tempo que você ficou esperando
e em todo tempo que eu esperei
e não chegamos a lugar nenhum
me parece que não precisamos dizer mais nada nem que as coisas são assim
E por que mesmo elas seriam assim?
Esse não é um lugar que eu possa dizer que não conheço
na verdade esse sentimento é uma das minhas primeiras lembranças
e se eu voltei para cá
podia ser você (eu não ia deixar)
A água recuou e eu fiquei parado
até não ter pra onde ir
e tudo o que eu tinha
foi levado daqui
Eu nem quero achar alguém como você
eu preciso me encontrar primeiro
sem você
A água recuou e eu fiquei parado
tentando entender porque meus amigos me acenavam
é que tudo o que eu tinha estava ali
e em um segundo não estava mais

Esquizo.

Escrevo-lhe porque não tenho ninguém a quem recorrer e parece-me que se esta farsa é clara a uma pessoa doente como eu, deveria ser clara a você. Minha família me abandonou vergonhosamente, não adianta pedir-lhe auxílio ou piedade. Já aguentei o máximo e isto está estragando minha saúde e fazendo-me perder tempo e querendo que eu acredite que meu mal é curável.
Cá estou no que parece ser um semi-limbo-de-loucos, só porque ninguém achou que devia dizer-me a verdade sobre as coisas. Se eu soubesse o que havia como sei agora eu teria aguentado, creio, porque sou forte, acho. Mas aqueles que deveriam esclarecer-me não quiseram fazê-lo. E agora, quando sei e paguei tão grande preço para saber, eles ficam ali sentados em suas vidas e dizem que eu devia acreditar naquilo em que acreditei.
Sinto-me só o tempo todo longe do que eu tinha por família e do que eu tinha por amigos. Vagueio por todos os lados numa espécie de confusão.
Já que você não quer aceitar minha explicação sobre o que há, podia pelo menos explicar-me o que você acha, porque você tem uma bondosa cara de gato e não aquele ar engraçado que parece estar em moda aqui.
Gostaria que alguém estivesse gostando de mim, como antes de eu ficar doente. Creio que se passarão anos, no entanto, antes de eu poder pensar numa coisa dessas.
Por enquanto vou ficar aqui cantando:
"A mulher nunca sabe
Como é bom seu homem
Até o dia em que o manda embora..."
.................................................. ...........
Carta de Nicole para Dick, em Suave é a Noite, do Fitzgerald

Já era

Ficar botando coisas aqui é bom.
Velhas.
Mas únicas.

O beijo que demorou dois anos (e não veio)

Salgando a chuva
numa esquina de dezembro
senti por um instante a tua mão na minha
(não era)
acendo todas as luzes, falo comigo mesmo
mas não consigo parar de te ouvir cantando todas as músicas
(e não está tocando música nenhuma)

O que eu vou fazer?
"continuar se matando", como alguém me disse
mas e a vida que eu poderia ter vivido?
foi embora ontem...

Não queria ficar só lembrando
mas também não queria esquecer
só queria conseguir fazer as coisas que eu tenho que fazer
e não queria ficar só esperando
nem sentir raiva, paranóia
por uma falta de amor próprio
que você nem tem nada a ver

O orgulho de se achar diferente
tão melhor que qualquer um
me fez pensar que esse amor era especial
o orgulho era egoísmo
era um estupro consentido
e agora nem orgulho eu tenho mais para te dar

O que eu vou fazer?
"continuar se matando", como alguém me disse
só o que eu sei é que não poderás ser minha melhor amiga para sempre
(foi embora outra vez)

Agarrado nas palavras
como um colete salva-vidas
inútil quando olho em volta e só tem mar
mas cães morrem nas ruas
e há pedófilos nas famílias
então essa choradeira toda até me envergonha e deve te envergonhar
(desculpa)

Meu preferido, o das misses

http://www.youtube.com/watch?v=I...h? v=IceISujshAs

Das primeiras do Pai Merdanelles

Carta ao Ivan

Tive medo de ouvir “às vezes céu”.
Esse pedaço da tua vida, da vida de vocês, da minha vida, recebi com a carta de 19 de outubro de 2004. Escrevo só hoje, dia 13 de janeiro de 2005, às 23h37min. Se não me tivesse pego no telefonema daquela manhã seguinte de ressaca, talvez estivesse fugindo ainda.
Pois escrevo então para me desculpar por não conseguir escrever. Não tenho distanciamento nenhum. E qualquer parâmetro só consigo traçar com minha megalomania. A primeira vez que ouvi o cd um tsunami de lembranças me lavou. E “lembranças não valem nada...”, tu disse. Mas meus olhos transbordaram de leve, orgulhoso. E consegui ver um pouco além mim. Pensar nas plantas que não cuido. Voltar a gostar de música. Me empolgar numa noite sem coca... aquele que “não compra tantas brigas, não sorri como sorria”, como disse eu... pelo menos riu sozinho em “um momento suspenso no tempo... um olhar que escapa num segundo, esconde nossas histórias, a vontade e a coragem de se entregar”, como tu disse.
“Alguns dizem que tenho talento pra melancolia”, tu também disse. Mas saber-se diferente mas igual ao que se sabe que é o que se deve ser pra ser a si próprio é um alívio. E “às vezes céu” me deu esse abraço. “E sempre tem alguém tentando te botar pra baixo... mas quando a gente fecha a porta e tudo fica lá fora: tudo parece simples, tudo parece certo”, tu disse. Nem um Don não tem dúvidas. Sabes por ti, acho. “Não acredito em quem diz não sentir medo”, tu disse. Precisamos de algum contato. “Não somos só nós”, eu disse. E ouvir o disco me fez conectado com algo, me fez confirmar que a arte é vida, não é só um canal, um meio, um estilo, uma fuga ou um refúgio. Ter convivido um pouco contigo e depois ouvir o trabalho pronto me tirou qualquer dúvida sobre a teoria de que esses mundos que criamos é que são a expressão do que acontece por aí. Esses paraísos e infernos não-rebaixados, marginais... esses documentos que deixamos sob uma ótica não comprometida com a sobrevivência... são a história.
Quem poderia contá-la por nós?
E “às vezes céu” é um livro, a biografia de um híbrido de alguém que se pareceria com nós todos, um pouco de cada... “a gente faz um mundo só pra gente”, tu disse. Só que “ao abrir os olhos de manhã meu mundo desapareceu”, tu disse também.
E “às vezes céu” me fez perder algum tempo falando sozinho, preenchendo o que era o vazio aluguel entre meu abrir e fechar de olhos. E o dia não passou tão rápido... e tudo por não se sentir só. E aquele que achava não precisar de uma confirmação sobre si mesmo sorriu ao recebê-la de quem admira. Não numa encomenda, mas num símbolo __ construído antes e depois __ de uma vida de semelhantes sonhos reais. Onde se dá, a toda essa doação, valor. Diferente dos mergulhos ali, logo além da “distância que dura mais ou menos dois copos” onde “depois me solto e sou capaz de ir pra casa mais próxima, com quem quer que seja, em busca de um pouco mais”.
Gosto muito de “às vezes céu”, como gosto de ti. És um artista que respeito. És um dos únicos artistas brasileiros dos quais não tenho vergonha, pena ou desprezo. Daí espero que tenhas consideração por esse desabafo e esse pedido de desculpas por não mandar para ti uma resenha tradicional __ como, talvez, esperavas. “E agora sozinho, sou apenas mais um cara, o papel em branco, a caneta, um cigarro, um trago... não existe fim”, tu disse.
É isso?
E minha cabeça está virada. Queremos ter um filho. “Já faz algum tempo que eu sai de casa”, tu disse.
Mas, cara, que letras...
E parabéns pelo bom gosto de todos na tradução dessas poesias para as canções. Grandes simples arranjos.
Deixo uma pra ti, feita nos dias depois de ouvir “às vezes céu”:
“Sobrenome
Meu sobrenome
é talvez
é esquecimento
é nunca foi
é poderia ter sido
e eu aqui
nem lembro a idade que tenho
nada mais pra dizer
desapaixonado
mal-agradecido com o que é e onde está
sonhavas com menos, lembra?
e o que queríamos ontem
estava lá
mas já não era o suficiente, lembra?
rir
do que?
Embarco em outra viagem do ego
se não sou quem pensava que fosse
quem é?”

Um abraço pra ti, amigo Ivan, outro para a amiga Adri, e também para os amigos Rodrigo, Carlão, Camarão e André. “A dor e a verdade num riso contigo... a cumplicidade... um mar dividido...”, tu disse.
A minha verdade também não me ajuda. Mas isso é bênção, acho. Tu sabe. E sei que me perdoas. Até.

Nas sombras

Quem me ver, não vai me enxergar.
Então vou ficar revirando algumas coisas para ficar um pouco bem ao achar uma lanterninha, com a luz vermelha, de brincar com os gatos.

Umas das idas do nada a lugar algum (15 de agosto de 2006)

A menina me passou a ligação.
- Jesus, é a Pola, do Centro de Arte e Cultura.
- E aí...
- Queríamos que escrevesse uma coisa pra nós.
- Pode ser.
- Vamos reunir o pessoal no Círculo da Pizza, terça-feira, ao meio-dia.
- Tá.
Não fui. Tinha chegado num ponto em que só fazia o que estava a fim. E não estava a fim de muita coisa. Ou desistia logo. E o que eu queria - mais ou menos - era gravar o disco novo: “Depois de Deus”, só com uma data de validade como nome. Dois ou três balões depois (e um livro que mandei, não meu), a Pola parou de ligar.

Anatole, no telefone:
- Vai na despedida do Mag?
- Despedida do quê?
- Ele e a Tatiana vão para a Croácia...
- É, né... onde vai ser?
- Ah, num bar cabeça aí - debochou, colocando tils, prolongando o “b” e acrescentando um “m”, para dar uma portoalegrada na pronúncia.
Ficava algo do tipo “cãbbbçãm”.

Era sábado. Umas 14h liguei para o Mag.
- Tá aí, já?
- Ãrrã.
- Vai ficar aí?
- Se tu vier eu espero.
- Falou. O Cica vai?
- Não sei, acho que não...
Tinha vontade de ver o Cica, apesar dele nunca ter vontade de ver ninguém.

Levei o celular, para Mimi ligar depois. Passei antes no Saco´s, que fica ao lado do Bolívia, onde moro.
- Um branco seco, por favor. E um lights, maço.
- Só box.
- Pode ser.
Fiquei olhando o Careca, no caixa. Estava sempre ali, a mesma cara de o-que-estou-fazendo-aqui. Era um espanta freguês. Tinha até suspendido as transmissões dos jogos depois que comprou o bar. Devia pensar “esses bêbados fugindo, chatos, puxando assunto” ... O que não adiantou muito, pois logo vi ali o cara de sempre, aquele. Ia falando com um e outro, matando o tempo enquanto morria. Tinha mais gente trabalhando que clientes, mas mesmo assim fui doce:
- Ainda dá para fumar?
- Não.
Fiz um fundo liso e fui, deixando para trás a foto do papa João Paulo II, abençoando a família. O Mag ligou. Me atrapalhei com o celular.
- Não vem?
- Estou indo. Ó, chegou um Santa Casa...
Já meio chuco, sem almoço, olhava pela janela. O bairro, onde tinha estudado quando guri, mudou nos três anos que estava aqui. Até um viaduto tinham feito. Os moradores de rua não eram mais os mesmos. E meus olhos demoravam mais a baixar com o vinho... e a sensação de relaxamento explicava porque eu bebia... e eu sabia que não ficava só num copo... e eu tinha que fazer um exame para ver se o esperma não estava gasto... e minhas férias estavam chegando... e eu podia ajudar um gato, um cão, mais que um homem... eu tinha sido processado por dizer que só faltava achar o padre na zona... e uma menina bonita subiu e eu sabia que a beleza sumia em duas, três palavras... e eu engasgava pelos desaparecidos... e a “Sara Nossa Terra”, ali, na janela, com um cara sorrindo para quem chegava, com um cabelo de gambá...

Desci na esquina do Sala. Lembrei que era para gravarmos naquele fim de semana. Só que esqueci de marcar com o Rene. Peguei a Independência e segui, passando o prédio do Sid e pensando em mais um vinho. E em mijar, também. Caminhei até onde ia para não fazer o que tinha planejado: o Ponto, Bom Fim.
- Um vinho tinto, por favor.
Me olhei no espelho, entre os abacaxis e laranjas do balcão. A vida é boa (não sei que pontuação colocar aqui).
Chovia fino.

Cheguei no Fitz. Mag numa amarguenta, de fora, já sem colarinho. Um pessoal arrumava roupas que seriam apresentadas num coquetel, ali.
- Maura, olha quem tá aqui - o Mag chamou a menina do balcão.
- Jesus, que diferente...
- É...
- Seja bem-vindo...
- Tá, velha... - disse baixinho, só para o Mag.
A Maura era amiga do “ginásio”, dos tempos do contra. Me pareceu que o “lesbianismo pra chocar” não era tão para chocar, quando ela voltou a cochichar com a “amiga” atrás o balcão... Legal. Tinha tomado um fora dela e de outra amiga uma vez, lá no Fim. Me pediram para escolher e eu queria as duas.
- Que tu tá pensando?
Pedimos um tinto, uma garrafa. Acendi um cigarro. A Tatiana chegou.
- Tu tá fumando? Maura, olha aqui... o que a gente tinha combinado?
- Peraí. Quer me mandar embora? - ri.
- Tem lei agora, em Porto Alegre. Não pode mais fumar.
Conversamos, em meio à fumaça, do Oriente Médio ao jornalismo de ata feito em Porto Alegre, passando por como sexo não estava com nada, mesmo. Só eu fumava. O lugar era pequeno e fui ficando orgulhoso da névoa que criava. Ia ao banheiro com o cigarro na mão e a fila sumia, essas coisas.
- Como vai ser a viagem? - perguntei.
- Vamos locar um carro e ir pelo litoral. Lá tem praias e ruínas históricas juntas... - o Mag se empolgou.
- Mas não tem perigo? - caguei-me.
- Não, não. Turismo é comum lá - Tatiana ensinou.
Anatole ligou. E veio, ele e a Ina. Passamos para a cerveja. Chamamos entre o “mesgum de folhas verdes” e “bruschettas” uma água da pipa e umas cinco vodkas.
- E o curso de vela, Anatole?
- E o Pichot, e o Pongo, Mag?
Um dos cachorros do Mag uma vez me fez subir numa árvore. Eram sempre mimados e violentos. O Mag tinha ciúme deles...
Comprei um fino por ali e fomos buscar Mimi para jantar no Micros.


Chegamos no Chinelo´s, eu, Mimi, Anatole e Ina.
- E aí, Jesus - acenou um cara, a quem devolvi, logo perguntando a Mimi quem era.
Fomos ao Sala.
- Numa festa a fantasia, até numa festa gótica, as pessoas se montam, mesmo. Aqui são máscaras invisíveis - observou Mimi.
- É.
Chegou o Bruno e a Carla.
- Fui lá no São João - ele contou.
- Foi?
- Pedi para entrar, fui lá.
- Por tudo? No pátio, na mesa de pingue-pongue, no lugar da fila, as araras, o brinquedão...?
- É. Tá tudo igual.
- Bah.

O jogo era às 19h. Fomos eu e o Mile. De ônibus. 17h estávamos na Praça XV. Entramos num bar.
- E o disco?
- Estamos fazendo.
- Como vai ser?
- Não estamos pensando num cd inteiro. Vamos gravando e disponibilizando para quem quiser baixar... Quero fazer uns vídeos, não clipes, vídeos...
- Vocês estão sempre à margem, tanto tempo...
- Tem sempre um fim de ano para as turmas. Meus amigos estão aí ainda, acho...
- Até quando vai isso?
- Acho boa a longevidade, sei lá. Sou meio gato, gosto de rotina. Eu estou aí...
- Pena que não conheçam vocês...
- Quem procura, acha. Vi tanta gente querendo fazer uma coisa que era a coisa de hoje e quando a coisa ficou pronta já era a coisa de ontem. Tenho pena de todo mundo, de mim... Minha coisa é a mesma de sempre. Nada - falava em voz alta, para me convencer..
- Vamos?
- Deixa eu fechar um no banheiro.
“O vamo, vamo Inter”... e eu estava me mijando no ônibus. O engarrafamento era grande. Me desesperei e comecei a gritar:
- Abre, abre.
O coro veio. O cara abriu a uns 300 metros do Beira-Rio. Corremos até uma árvore.
2 a 0. 2 a 1 dava pênaltis. E teve uma falta para a LDU nos acréscimos. Eu pensava: “O Inter é poesia, mesmo. É a redenção só ao subir aos céus”. Mas o Clemer pegou.
- Olha o carro.
- Vi, vi.
Atravessamos a rua jogando o peso do corpo para a frente, mirando a reta, bêbados.
- O cara tem que ser cagão.
- É. O cara ou é cagão, ou é um babaca. Em tudo, em tudo... O contrário de cagão é babaca. O cara metido só se fode.
- E a bebida é um milagre enquanto dura o efeito.


Mimi ia tatuar a mãe e eu e o Primo fomos lá no Anatole, sábado. Jogo do Grêmio na tv. O Jr. estava lá. Mais a Irina, a Lucia e o magrão dela.
- Vai um suco de artista? - veio o Primo, na cachaça com abacaxi.
A Prisca ia embora para a Argentina na semana que vem.