quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O cisco e o travessão

- Olha o céu, que noite, que mar...
- Deixa eu tocar uma deitado aqui, bem hippie, Ambar.
- Não, não, chega, pra que se deprimir...
- Eu gosto de tocar isso...
- O meu, pára, pára...
- Não vou parar, cara.
(...)
- Bah, o cara foi embora, se deprimiu...
- Pois é...
(...)
- Meu, o Cristiano se deprimiu ontem, na praia.
- Por que?
- É, o Jesus tocou uma das nossas e o cara surtou, puxou ele pelo braço, queria que parasse...
- Olha o roxo aqui no pulso.
- Cara, tu não sabe que o cara perdeu a mulher dele não faz seis meses? Deu um câncer e morreu em menos de um ano...
- Bah.
- Mas que música tu tocou, “se eu morrer amanhã?”
- Ovelha de soja.
- Qual é?
- “Chapado e sozinho
cansado demais
não queres ouvir, não quero falar
falar e falar
penso em ti
e agora, onde estás?
ainda gosta de mim?
porque eu não gosto mais
e agora que é sexta-feira...
cadê você
cadê você
em meio a essas quinhentas pessoas?
liguei pra falar
das crianças e da caneleira
e da ovelha de soja
mas não dá, não dá
bebendo de novo
não eras assim
e vem me dizer que é o que sobrou pra ti?
e amanhã é segunda-feira...
cadê você
cadê você
em meio a essas quinhentas pessoas?
(engordou
envelheceu
e o seu cabelo...)
um domingo
eram só domingos lá
e os mesmos carros passam na avenida e voltam
a cada domingo
a cada domingo
a cada domingo
a cada domingo
a cada domingo
a cada domingo

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